sábado, 30 de março de 2013

Álcman de Esparta



Poeta coral lírico,  grego,  do século VII a.C.

Aristóteles parece acreditar que Álcman era um escravo originário de Sárdis (Ásia Menor), trazido para Esparta por uma família local que acabaria por libertá-lo ao reconhecer-lhe capacidades extraordinárias na arte da composição e declamação de poemas.

A sua obra, também fragmentada, é perpassada de referências pessoais ilustrando, simultaneamente, uma sociedade culta, com influências orientais e interessada na cosmogonia.

Álcman dirigiu grupos corais e de dança que entoavam magistralmente, em público, os seus hinos. Do que resta da sua obra destaco “Canção das donzelas” que originalmente seria cantado por um coro composto por dez jovens raparigas que, divididas em dois grupos,que se enfrentam e desafiam, cantando.


Canção das donzelas

É vingança dos deuses;
mas abençoado é aquele que
esvoaça pela vida sem lágrimas.
Mas eu devo cantar a luz de Agido. Vejo-a como o sol,
cujo brilho sobre nós é testemunhado através de Agido.
Mas a nossa bela
líder de coro
não vai me deixar elogiá-la, nem
dizer que ela não é justa.
Ela sabe muito bem o que é
e que é algo deslumbrante,
como se no meio de um rebanho de
gado colocássemos um cavalo de corrida,
musculoso, veloz, e com pés de trovão,
criatura de um sonho alado.
Não está Hagesichora
do lindo passo aqui ao nosso lado?
Será que ela espera com Agido,
e conduzirá o nosso desempenho?
Mas vocês Deuses, aceitam as suas orações,
porque o fim e o sucesso
vêm de Deus. Minha líder de coro,
donzela como eu, eu digo
só tenho trinado em vão
a partir dos telhados
como uma coruja, mas também
quero agradar à Senhora
da Aurora, pois foi ela quem
veio para curar-nos na nossa tribulação.
Donzelas, chegamos à paz desejada,
tudo pela graça de Hagesichora.

Álcman foi considerado o elemento mais antigo dos nove poetas líricos que compõe o famoso do Cânone de Alexandria (sendo os restantes Safo, Alceo, Anacreonte, Estesírico, Íbico, Píndaro, Simónides de Ceos e Baquílides).
 
Tradução livre a partir da versão inglesa consultada em http://uts.cc.utexas.edu/~sparta/topics/articles/academic/poetry.htm#alcman

Terpandro de Lesbos

     Grego do século VII a.C., poeta lírico coral e músico.
     A sua vida e atividade desenrolam-se em Esparta, uma cidade culta que nos parece ligeiramente diferente da inflamada e bélica que nos apresentaTirteu (ver post anterior)
 Esparta
Floresce a lança de
batalha dos homens jovens,
aí a Musa é eloquente,
aí a Justiça do caminho força a
ações de honra.
     É em Esparta que funda uma escola de música e onde compõe o hino a Apolo que lhe confere a honra de um primeiro prémio no festival das Carneias, no ano de 676 a.C.
Para Apolo e as Musas
Vamos derramar uma libação
às Musas, filhas
da Memória, e a Leto
filho, do Senhor Apolo.
     A Terpandro ficará para sempre ligada a poesia lírica coral, em especial como cultor do nomo (no Hino em honra de Apolo), e, para alguns, a invenção da lira de sete cordas.
   Os poucos fragmentos da sua obra que hoje são conhecidos carecem de uma autenticação sólida.

Poemas traduzidos da versão inglesa consultada em http://uts.cc.utexas.edu/~sparta/topics/articles/academic/poetry.htm#tyrtaeus

Tirteu de Esparta - Tyrtaeus



Tirteu, poeta grego do século VII a.C., destacou-se pelos seus marcantes “cantos” de guerra.
Sobre a vida de Tirteu muito se tem discutido mas pouco se sabe com alguma certeza, assim sendo, não nos arriscamos a especular sobre a sua origem, como e onde se formou, ou mesmo, sobre sua evolução como poeta.
Tendo sido contemporâneo da revolta dos povos da Messénia contra Esparta e das consequências negativas que tal acarretava, decidiu-se a exultar os jovens à guerra, recorrendo a uma poesia inflamada que era acompanhada de música. Os seus poemas conduziram os espartanos à vitória na segunda guerra de Messénia: inspirados pelos cantos de guerra os espartanos, orgulhosos e firmes em campo, vencem os seus adversários.
Alguns fragmentos, ainda que dispersos, dos seus poemas, chegaram até nós, permitindo-nos compreender porque mereceram tanto apreço por parte dos Gregos. As suas elegias combinam magistralmente a exortação à coragem e disciplina pessoal com as memórias das vitórias passadas e a certezas de vitórias futuras.

Soldado espartano
É bonito quando um corajoso homem das fileiras da frente,/
cai e morre, lutando pela sua terra natal,/
e medonho quando um homem foge /
e vagueia implorando com sua querida mãe,/
idoso pai, filhos e esposa./
Ele será desprezado em cada aldeia,/
reduzido à pobreza repugnante, e a vergonha/
vai marca sua linhagem, a sua nobre/
figura. Escárnio e desastre persegui-lo-ão./
Um traidor não recebe respeito ou piedade;/
então lutemos pelo nosso país e entreguemos livremente/
as nossas vidas para salvar os nossos queridos filhos./
Homens jovens, lutam escudo a escudo e nunca sucumbem/
ao pânico ou cedem à fuga miserável,/
mas endurecem o coração no seu peito com magnificência/
e coragem. Esquece a sua própria vida/
quando luta com o inimigo. Nunca fuja/
e deixe um velho soldado/
cujas pernas perderam o seu poder. É chocante quando/
um jovem é precedido de homem velho na linha de frente/
um velho guerreiro cuja cabeça é branca/
barba grisalha, exalando a alma forte/
no pó, segurando os genitais sangrando/
nas mãos: uma visão abominável,/
horrível de ver: a sua carne nua. Mas, em num jovem/
tudo é bonito quando ele ainda/
possui o brilho da juventude./
Vivo, ele é adorado pelos homens,
desejado pelas mulheres, o melhor para se olhar/
quando cai morto no confronto frente./
Que cada homem finque as pernas, enraizando-as no chão,”
morda os seus lábios com os dentes, e aguente.

Esparta vive o momento em que se afirmam as falanges de hoplitas, soldados de infantaria pesadamente armados, com capacete, escudo, caneleiras, uma lança longa e uma espada curta,  falange que se move e combate unida, obedecendo, cegamente, ao comando dos oficiais e que entende que a vitória depende da solidariedade do companheiro que está imediatamente ao lado. Se um soldado ceder ao medo e tentar fugir, o pânico rapidamente se estenderá e a falange acaba por romper. A solidariedade entre os membros da falange e o controle do medo são objeto cuidado da tão famosa educação espartana, enfatizada pelos poemas de Tirteu, cantados desde a mais tenra idade. O segredo do sucesso é a coragem: morrer com coragem e sobreviver com coragem.

Coragem
"Porque nenhum homem se provou bom guerreiro/
a menos que possa suportar o sangue e a chacina,/
avance contra o inimigo e luta com as suas mãos./
Isto é a coragem, a melhor a possessão da humanidade, é/
o mais nobre prémio que um jovem pode ganhar,/
e é a glória que a sua cidade e todos os povos com ele partilham/
quando finca os pés e fica ao alcance das lanças/
implacavelmente, todas as ideias de fuga completamente esquecidas,/
coração
treinado  para ser firme e aguentar,
e com palavras incentiva o homem que está colocado ao seu lado dele."
Tradução livre a partir da versão inglesa consultada em  http://uts.cc.utexas.edu/~sparta/topics/articles/academic/poetry.htm#tyrtaeus

segunda-feira, 25 de março de 2013

Safo de Lesbos



Poetisa grega, nascida na ilha de Lesbos (Mar Egeu), no século VII a.C.
Como jovem aristocrata beneficiou de uma educação cuidada. Com cerca de 19 anos, Safo já se dedicava à poesia e à política, e, a sua forma incisiva de abordar os assuntos ter-lhe-á valido vários momentos de exílio.
Casa com Cercolas, rico comerciante que morre prematuramente, deixando-lhe uma fortuna considerável e Cleis, a sua filha adorada.
Regressando a Lesbos, assume o papel de líder intelectual do grupo de senhoras, que se reúnem amiúde, em sessões de composição e declamação de poesia. Incentivada pelo seu sucesso, funda uma escola para raparigas, onde ensina poesia, canto e dança. As jovens são apelidadas de “amigas” (hetairai). Safo nutriu paixões diversas por muitas dessas jovens sendo que a mais marcante foi a que envolveu Atis, a quem, despeitada, dedicará alguns versos mordazes:

Fragmentos, sobre o amor e desejo
"Queimas-me .....
Lembras as coisas que
Nós fizemos na nossa juventude ...
Muitas  coisas bonitas ...
Uma e outra vez ... porque aqueles
de quem mais gosto, fazem-me o maior mal ...
Tu vieste e eu estava louca por ti
E acalmaste a minha alma que ardia de saudades
Há muito tempo eu te amei, Atis,
Parecias-me uma criança sem graça                   
Rouxinol, arauto da primavera
Com uma voz de saudades ....
........... Mas tu esqueceste-me ...
(…)                   
Para mim nem o mel
Nem a abelha ...
Vem do céu, envolto em um manto de púrpura ...
De todas as estrelas, a mais linda ...
Falei com Afrodite num sonho ....
Não me alegra conduzir ao sofrimento,
A minha é uma mente calma ....
Tal como o jacinto da montanha, flor roxa
que os pastores pisam no chão ...
Querida mãe, não posso tecer
Preenchida, por Afrodite, com amor por um rapaz magro ...”
Tradução livre de http://www.poetryintranslation.com/PITBR/Greek/Sappho.htm#_Toc76357051


A sua linguagem é simples e direta na abordagem de temas como o amor, o ciúme e as relações humanas. Safo fala essencialmente de si e das suas emoções.
Safo parece ter sido muito respeitada e apreciada durante a antiguidade, Platão a ela se refere dizendo que foi a décima musa. No entanto, os seus escritos perdem-se quase na totalidade porque a Idade Média os considera demasiado eróticos e sentencia a sua destruição. Já no século XIX recuperam-se cerca de 600 versos de Safo – dois arqueólogos trabalhando em Oxorinco, descobrem, em sarcófagos, tiras de pergaminho contendo escritos de Safo.

Imagens retiradas de: