Na Grécia Antiga o religioso tendia a fundir-se, no dia a dia, com o lúdico e com o político contribuindo fortemente para reforçar a identidade cultural dos Gregos.
Em Atenas (tal como nas restantes cidades Gregas) a religião é tida como um dever e um direito cívico, devendo o cidadão
inclinar-se perante a vontade dos deuses, prestar-lhes culto e deles aceitar as
normas de vida e preceitos. Na verdade, esta forma de viver a religião, parece não ter implicado um sentimento profundo, mas exigia uma
prática rigorosa de fórmulas e ritos. Entenda-se que era
impossível ser-se um bom cidadão ateniense quando não se acreditasse no poder de Atena, ou
no de Zeus, seu pai, ou no de qualquer outra divindade. Da desconfiança quanto à obediência aos preceitos devidos ao divino resultaram muitos processos de impiedade contra alguns
“descrentes” filósofos do século V a.C. (veja-se, a título de exemplo, o caso de Sócrates acusado, em 399 a.C, de não
acreditar nos deuses que a cidade reconhece e de corromper a juventude; valeu-lhe este processo a condenação à morte).
Entre as populações rurais surgiu a necessidade de uma religiosidade
mais consoladora, desenvolvendo-se a religião dos mistérios – o orfismo foi buscar
a figura do seu deus à religião oficial, atribuindo-lhe a função oracular
(com pouquíssima expressão em Atenas). Atenas temia os mistérios e canalizou-os para Elêusis (culto
centrado na figura de Deméter e essencialmente feminino).
Os Gregos praticam um culto privado (individualmente ou em família), um culto cívico (realizado
nos templos e ligado a atividades culturais e desportivas em honra dos deuses
protetores da pólis) e um culto pan-helénico (realizado
em santuários onde se dirigiam gregos de toda a Hélade).
De um modo geral, o culto
consiste essencialmente na recitação de preces e louvores, sacrifícios e purificações.
A recitação é
feita em pé, com os braços levantados ao céu, quando se dirigem a Zeus, ou a
outras divindades celestes, ou curvados sobre a terra, quando se dirigem a
Hades ou a outras divindades infernais.
Esta dependência dos deuses resulta normalmente de uma troca de favores:
pede-se uma benesse e, para que seja conseguida, faz-se uma oferenda - as preces oficiais da
Pólis de Atenas consistiam em pedir aos deuses “bem estar e
salvação dos cidadãos atenienses, das suas mulheres e filhos, assim como de
todo o país e dos seus aliados”.
As oferendas, que normalmente acompanham as
preces, podem consistir em libações de vinho ou
leite, ou nalguns bolos e pastéis que depositam no altar, ou ainda em legumes e
primícias das colheitas. Mas os sacrifícios mais importantes
são de caráter sangrento: imolação ou holocausto de animais – degolam-se carneiros
e ovelhas, vacas e bois, porcos, cabras e bodes (cada divindade tem a sua
preferência: Posídon – touros; Atena – vacas) sempre animais sem defeitos e de
boa qualidade. Por vezes, realizam-se hecatombes (sacrifício de 100 bois) mediante rituais
estudados, em que parte do animal é queimada e oferecida ao deus e o restante é
dividido pelos cidadãos que podem comer logo no final do sacrifício ou levar para casa (uma primeira forma de Take Away em dias feriados?). Por vezes um
adivinho assiste ao sacrifício, examinando as vísceras, ainda quentes, do animal
e delas extraindo indicações sobre a vontade dos deuses. O holocausto era também
um sacrifício de purificação individual e coletiva.
Imagem retirada de http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Athena_Varvakeion_-_MANA_-_Fidias.jpg